Cultura é comportamento
- Jean Modelski
- 11 de ago.
- 3 min de leitura
Durante muito tempo, falar de cultura organizacional soava como algo subjetivo demais para estar na pauta de decisões estratégicas. Cultura era confundida com clima, resumida em palavras na parede ou restrita às ações do RH. Mas a verdade é que cultura não é o que está escrito, é o que é praticado. E práticas são comportamentos.
Cultura organizacional é comportamento institucionalizado.
Ela se expressa na forma como as pessoas tomam decisões, lidam com conflitos, tratam os clientes, se comunicam entre si, encaram erros e respondem à pressão. É o jeito como as coisas realmente são feitas por aqui. E isso tem um poder imenso, tanto para alavancar uma empresa quanto para sabotá-la silenciosamente.
[1] O mito da subjetividade
Peter Drucker, um dos maiores pensadores da administração moderna, já dizia:
“Culture eats strategy for breakfast.”
A frase virou clichê. Mas talvez isso tenha enfraquecido seu peso. O que Drucker queria deixar claro é que não importa o quão boa seja a sua estratégia, se a cultura da empresa não estiver alinhada, ela não irá se sustentar. E isso é mais mensurável do que parece.
A consultoria McKinsey & Company, em um estudo global, identificou que empresas com culturas organizacionais saudáveis apresentam três vezes mais retorno aos acionistas do que aquelas com culturas tóxicas ou negligenciadas. A Gallup, por sua vez, mostrou que organizações com forte cultura de engajamento possuem 21% mais lucratividade e 17% mais produtividade em média.
Esses números desmentem qualquer visão que trate a cultura como algo “intangível”. O intangível, aqui, está apenas nos olhos de quem se recusa a ver.
[2] Cultura se constrói com exemplo e intenção
Líderes que não entendem isso terceirizam a cultura para o acaso. Deixam-na se formar espontaneamente, sem direção. E o que nasce por inércia quase nunca é virtuoso. Já, líderes conscientes assumem que todo comportamento é uma mensagem. Eles sabem que:
Se os atrasos são ignorados, a pontualidade deixa de ser um valor e vira uma opção.
Se as fofocas são toleradas, a transparência perde espaço para o ruído nos bastidores.
Se o resultado é valorizado acima de tudo, mesmo à custa da saúde mental, o esgotamento vira padrão de excelência.
Cultura é reforçada no detalhe. Ela se fortalece (ou se corrói) todos os dias, nos microcomportamentos. Não é só sobre o discurso nas reuniões ou nos manuais, mas sobre a coerência entre o que se fala e o que se faz.
[3] Se você é empreendedor, preste atenção nisso
A cultura da sua empresa não é sobre o que você gostaria que ela fosse. É sobre o que ela é, de fato. E o que ela é, depende do que você e sua equipe fazem diariamente, não do que dizem que fazem.
Por isso, a pergunta que todo empreendedor deveria se fazer regularmente não é “qual é a cultura que eu quero?”, mas sim: “qual é a cultura que estou cultivando com meu comportamento?”
Se você quer uma cultura de inovação, mas pune o erro, a mensagem real é de aversão ao risco. Se quer uma cultura de colaboração, mas premia apenas resultados individuais, está fomentando competição. Se quer uma cultura de excelência, mas relativiza padrões para manter quem entrega mais rápido, está incentivando atalhos.
[4] Cultura não se “implanta”, se sustenta
É comum ouvir CEO’s dizerem: “precisamos mudar a cultura da empresa”. Como se fosse um sistema operacional que pudesse ser atualizado. Não funciona assim. Cultura não é um software, é um organismo vivo. Ela não muda com um workshop. Ela muda com a repetição disciplinada de comportamentos diferentes.
Se você quer transformar a cultura do seu negócio, comece por onde é mais difícil e mais eficiente: o seu próprio comportamento como líder.
“Você não constrói uma cultura com discursos. Você constrói cultura com o exemplo e com o que você permite.” — Brené Brown
Cultura é o comportamento legitimado. É o modo como sua empresa age quando ninguém está olhando. Se você deseja crescimento consistente, reputação forte e equipes engajadas, a cultura não pode ser pano de fundo. Ela deve ser prioridade estratégica.
Cultura é comportamento. E comportamento é escolha. A pergunta é: Que comportamentos você está escolhendo reforçar hoje?
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